sábado, 19 de novembro de 2011

Em Busca do Vale Sagrado - Dia 4 - Pedalando em Cusco

Após programar efetivamente a viagem e notar que tinha um dia inteiro livre antes de começar a Trilha Inka, pensei: Por que não gastar parte desse tempo pedalando pela região de Cusco? ...afinal, por que perder uma oportunidade de rodar nas grandes montanhas da Cordilheira dos Andes?
Pesquisei na internet e achei uma empresa que realizava trilhas guiadas na região, peguei o endereço por email para ir até a empresa quando estivesse lá...
No dia anterior tentei localizar a empresa pelo endereço e nada, com um sentimento de frustração a me consumir fui buscar alternativas. Localizei uma agência que aparentemente fazia alguns passeios de bike, mas como esses dias eram feriado (1 e 2 de novembro são Dia de Muertos no Peru) não existia guia para fazê-los, o máximo que podiam fazer eram me alugar uma bike para que eu fosse "solo".
Que assim seja!
Combinei de passar no dia seguinte para pegar a bike às 9 horas da manhã... quando vi a bike, sinceramente, pensei em desistir... visualmente a bike parecia um frankstein: Quadro Scott USA antigo e pequeno para meu tamanho, suspensão de uns 120mm Suntour de mola/elastômero, sem regulagens e com graxa vazando pelas canelas, guidão e mesa Specialized, pedivela Suntour, cambio e passador dianteiro alivio 3v, cambio e passador traseiro Shiman SIS 6 velocidades, das quais só funcionavam 5, freios a disco mecânicos genéricos, um canote que mal mal deu o comprimento que precisava... a única coisa que me passou grande segurança na bike foi o par de Maxxis High Roler 2.5 que estavam nas rodas... pneuzão de downhill é bacana!
Mas a vontade de pedalar era maior, dei uma rápida revisada nos freios e suspensão para assegurar o funcionamento, calibrei os pneus, ajustei canote e posição de manetes e sai rodando...
Peguei um morro que subia no final da rua da agência e segui, aos poucos a cidade foi acabando e só me restava ladeira acima, ainda no asfalto. Cheguei a uma enorme placa do parque arqueológico "Saqsaywaman", tentei uma estradinha de chão... sem saída, mas pelo menos pude ver um vasto campo verde onde eram criados cavalos e alpacas (esses da foto). De volta pela mesma estrada e continuando a subir pelo asfalto passo em frente ao sitio, enormes terraços de pedra e pedras enormes talhadas e empilhadas. Segui pelo asfalto e vi uma entrada pela cerca, não exitei em entrar... subi um morro e tive uma bela vista do parque arqueológico... até um funcionário do parque vir correndo atrás de mim dizendo que não poderia estar ali de bike.
Meia volta e segui subindo... em certo ponto a estrada se bifurcava, sendo que um dos lados estava fechado por um grande amontoado de terra... é era por ali mesmo que seguiria...
A estrada estava fechada, em reformas, com pedaços da pista despencados, e o visual das montanhas me impulsionavam morro acima.
O trecho fechado voltava a se juntar com outra pista adiante, esta movimentada com vários veículos e continuava a subir ao infinito... sim, as montanhas aqui são altas e longas. Subi mais um pedaço pelo asfalto, parei para tomar um gole d'agua e olhar no GPS onde estava e avistei um caminho de terra nas minhas costas... não pensei duas vezes, fui colocar a bike no terreno pra que ela foi feita.
Segui uma bela e rápida descida com pedras e cascalho onde dividi o caminho com pessoas que cavalgavam pelo local... Cheguei no "Templo  de La Luna", uma grande rocha, onde tem-se um altar entalhado na pedra para adoração a lua... e também serviu para me dar uma boa visão para decidir por qual caminho seguiria.
Escolhido o caminho, pernas a obra... Comecei a passar por trilhas, subindo e descendo, com terrenos variando de chão batido e pedras soltas nas subidas até pequenas escadas/contenções nas decidas... pedalei por algum tempo sem ver ninguém, apenas com o barulho dos riachos e com o visual das montanhas (inclusive com picos nevados) ao meu redor... até que chega um momento e... ué cade a trilha?
Catei o GPS e vi que o local mais próximo era uma vila chamada "Yuncaypata", peguei a direção e fui no rumo... depois de literalmente escalar alguns barrancos carregando a bike cima, cheguei num plano onde conseguia ver a vila a uma certa distância... Segui pedalando até chegar lá. Desse ponto em diante comecei a parar menos para fotos e segui com um pouco mais de pressa... o horário estava se estendendo e tinha combinado de almoçar com minha esposa...
Ao chegar na vila me senti transportado a uns 3 séculos atrás... imaginem uma vila da época feudal, casas rebocadas de barro, ruas de terra batida, crianças, cachorros, porcos, todos sendo "criados" juntos nas pequenas ruas... encontrei alguém, pedi a informação de como voltar para Cusco e segui caminho morro abaixo, veloz e confiante.
Em grande parte do percurso senti falta da minha bike, mas, principalmente aqui, com muitas descidas, ô vontade de trazer minha bike de casa.
Depois de bastante descida, a estrada acidentada foi afinando até se tornar um single-track... segui descendo até que, ao soltar o freio traseiro antes de uma curva a roda continuou travada...
Fui verificar e a pinça de freio estava realmente travada, forcei para liberar e quando fui tentar freiar... manete mole... o cabo do freio traseiro tinha estourando em algum lugar dentro do conduíte.
Sem muita opção, segui devagar e onde a coisa ficava mais tensa, descia e empurrava... não dava pra ficar arriscando morro abaixo somente com o freio dianteiro...
Mais um bocado de singles e saio num vale, passo sobre um riacho e um belo morro para subir... lá em cima, avisto a cidade de Cusco próxima... entrei na cidade um pouco longe do hotel e tive que andar ainda uns 3km dentro da cidade até chegar depois de 4 horas de pedal e encontrar minha esposa chorando achando que tinha morrido.
Explorar um local totalmente diferente é uma experiência fantástica e me fez lembrar uma dica que tinha lida há algum tempo, que declaro verdadeira e repasso: "Em vez de investir muito dinheiro na sua bike, invista um pouco em encontrar lugares para se pedalar".
Mesmo com uma bike medíocre e fora do meu fit, consegui me divertir um bocado!
Agora, era descansar e se preparar para os 4 dias de hiking da Trilha Inka que começariam no dia seguinte...

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